segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Petrohué - Dia 1

Acordamos cedo em Puerto Varas no dia 20 de janeiro, e após tomar o "desayuno", fomos pegar o ônibus das 9h15 para Petrohué. Mais uma vez era apenas um micro-onibus. Nossas mochilas, grandes e carregadas, foram no espaço ao lado do motorista, junto com mais uns 5 ou 6 sacos de 25kg de farinha que foram mais tarde entregues em uma padaria no caminho. Tivemos que ir um bom trecho em pé, pois ao contrário do que pensávamos, muita gente estava indo para aqueles lados.

Petrohué.

Petrohué.

Após quase 2 horas de ônibus por uma estrada asfaltada que segue pela lateral do lago Llanquihue, em paisagens rurais, entramos nos últimos 6km de terra que levam até Petrohué. Nesta altura da viagem, podíamos já ver o rio Petrohué, que desce a partir do Lago Todos Los Santos, com sua cor verde fluorescente.

 Cruzando o Rio Petrohué para a área de camping.

Chegando em Petrohué, uma minúscula vila que conta com nada mais do que um hotel e uma pousada com cabanas, um posto da empresa que faz a travessia dos lagos, com uma cafeteria e uma lojinha, uma tenda de artesanatos e um posto da marinha, tivemos que pegar um pequeno barco a motor para cruzar o rio e ir até o local do camping, na outra margem, onde haviam umas poucas e pequenas casas (as únicas) de moradores locais. Mais tarde descobrimos que existe agora um outro camping no mesmo lado em que se chega a vila, mais próximo ao lago.

Acampamento na beira do rio.

Após cruzar o lago, procuramos um local para acampar. Fomos para um ponto mais isolado, no final da área de camping. Um local bem legal, a beira do rio (na verdade todo o camping o era, pois logo em seguida, uns 50 metros da margem, iniciava uma montanha com floresta), com um grande tronco de árvore tombado e uma mesa próxima. Montamos acampamento e fomos direto preparar o almoço. O local lindíssimo. Aproveitei na mesma tarde para tomar um banho no rio Petrohué, de água claríssima mas novamente gelada. O tempo estava bom, com poucas nuvens, mas mesmo assim o vulcão Osorno estava encoberto. Sabíamos que ele estava por ali, bem próximo, mas não conseguíamos ve-lo.

Visual a partir do acampamento.

Banho de rio.

Passamos a tarde organizando o acampamento e curtindo o dia. Assim que o final da tarde foi se aproximando, começamos a receber visitas indesejadas. Nuvens de mosquitos e pequenas mosquinhas começaram a nos cercar. Literalmente ficávamos cobertos pelos insetos, que tentavam nos picar mesmo através da roupa. Resolvi então dar um pulo de volta no outro lado do lago para tentar conseguir repelente de mosquitos, pois não tínhamos levado (nem precisado até então). Tomei novamente um barquinho, por 300.00 pesos chilenos, e fui direto na lojinha da empresa da travessia. Ali a atendente, que não tinha o que eu procurava, informou que não existia mercado na vila. Não existia nada além do que eu estava vendo. Mas não me convenci. Saí caminhando um pouco mais em direção ao lago e uns 30 metros adiante, encontrei o Mercado Petrohué. Beleza! Era um galpão de madeira, com 2 ou 3 tábuas formando uma prateleira ao fundo e ao lado, com alguns produtos básicos, como sabonetes, papel higiênico, refrigerantes quentes e outros. Repelente não tinha, mas tinha inseticida, que ao menos adiantaria para colocar dentro da barraca. Só me impressionei como em um local tão pequeno, com uns 100 metros entre uma ponta e outra da vila, a mulher que me atendeu desconhecia o mercado!!!

Atravessei de volta para o camping (mais 300.00 pesos para o barqueiro) e para o nosso acampamento. Ficamos o resto da noite por ali, cozinhando novamente e aplicando inseticida sobre a roupa para ter  uns 20 minutos de descanso dos mosquitos até o efeito passar e retornarem. O que melhorou um pouco, foi trocar a calça e blusa pretas, por outras cinza e branca. Dica das meninas da cafeteria. Por algum motivo os mosquitos ficam enlouquecidos com a cor preta.

Acampamento.

Ainda ao final da noite, antes de ir dormir, recebemos a visita de um porco ao qual apelidamos de Chancho. O dono dele, um senhor de uns 80 anos de idade, havia passado a tarde toda pregando tábuas e arrumando o cercado do Chancho e sua esposa (com filhotes), pois era muito fujão. Pareceu piada. Chegou a noite, lá estava o porco do lado de fora. Ele veio até nossa barraca, chafurdou em volta, arrancou algumas fixações da barraca e passou o resto da noite passeando pelo camping.

Chancho.

Nosso amigo Osorno, o vulcão, se mostrou um pouquinho pra nós, só para dar um gostinho da paisagem que teríamos com tempo aberto. Fomos dormir logo para poder ficar em paz, longe dos mosquitos.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Puerto Varas

Após o passeio a Isla Tenglo, no segundo dia em Puerto Montt, resolvemos na mesma tarde ir embora para Puerto Varas e Petrohué, em  busca novamente de locais mais calmos e próximos a natureza. Puerto Varas é bem próximo a Puerto Montt, sendo possível pegar mini-ônibus a cada 5 minutos para a cidade.

Orla do Lago Llanquihue.

Chegando em Puerto Varas, procuramos a central de informações turísticas, que fica na orla do lago Llanquihue, chamada de "Casa del Turista". Lá fomos super bem atendidos por uma menina, que nos deu todas as informações sobre Petrohué, a travessia dos Andes de barco e hospedagem. Nossa idéia era ir direto já pra Petrohué, mas descobrimos com ela que o último ônibus saia as 18hs, e já eram mais de 17hs e tínhamos que comprar ainda as passagens da travessia e comer algo, pois estávamos com fome. As passagens puderam ser compradas ali mesmo na Casa, com desconto especial de US$ 50.00 para turistas brasileiros. A travessia parte de Petrohué de navio pelo lago Todos Los Santos e após 3 trocas de ônibus e barcos chega a Bariloche.

Após acertarmos tudo para nossa partida para a Argentina, marcada para dali a 3 dias, fomos ao hostel indicado pela menina que nos atendeu, um dos mais baratos na cidade. O hostel bem legalzinho, ligado ao restaurante Maison Divine. Ficamos só os dois em um quarto com dois beliches. Os banheiros eram fora do quarto, separados para homens e mulheres, e bem limpos e organizados. A cozinha, que utilizamos para fazer a janta, bastante espaçosa, além da área para café-da-manhã. Tudo por 8mil pesos chilenos por pessoa (aproximadamente R$ 32,00).

Banho no lago.

Demos uma volta por Puerto Varas. Conhecemos a orla do lago, cheia de pequenos restaurantes, pousadas, trapiches e áreas onde crianças e adultos se banhavam e passeavam em caiaques. Nos surpreendeu mais uma vez encontrar uma cidade a beira de um lago limpo, com local próprio para banho (com sinalização para isto). Não estamos acostumados com isto aqui no Brasil, pois tanto os lagos (como o Rio Guaíba em Porto Alegre) quanto as praias de mar são sempre poluídas quando em frente a alguma cidade. O vulcão Osorno, que normalmente presenteia a cidade com uma bela vista junto ao lago, não deu nem as caras mais uma vez, pois o céu estava totalmente nublado e o vulcão encoberto.

Restaurantes na orla do Lago Llanquihue.

Demos algumas voltas ainda pelo "centro" da cidade, passamos no supermercado para comprar provisões para os próximos dois dias em Petrohué (a acampar) e fomos nos recolher para o hostel. Para a noite estava marcada uma apresentação pública de um maestro e uma cantora em um anfiteatro montado na área central da cidade, com patrocínio da Fundação Itaú, mas estávamos mais uma vez tão cansados que ficamos no quarto preparando as coisas para o outro dia. Acabamos dormindo cedo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Puerto Montt e Isla Tenglo

Dia 18 de janeiro, partimos as 10hs da manhã de ônibus rumo a Puerto Montt. Após 5h30 de viagem, descemos na rodoviária e nos dirigimos ao hostel Pacífico, uma das indicações do site Lonely Planet. Mais uma vez encontramos um hostel "meia boca" mas com preço de hotel no Brasil: R$ 100,00. Mas o quarto era justo, cama de casal, tv e banheiro privado. O café da manhã padrão chileno (e argentino também), com 2 pãezinhos, café com leite, manteiga e algo doce (marmelo, doce de leite ou algo assim). Nada dos cafés que estamos acostumados no Brasil, com frutas, cereais, bolinhos, diversos tipos de pães, iogurte e tudo o mais.


Puerto Montt


Trapiche em Puerto Montt.

Puerto Montt é uma cidade grande, com mais de 200 mil habitantes, e com cara de cidade grande. A maior movimentação fica próximo ao porto, onde atracam os grandes navios cruzeiros. Nossa passagem foi rápida, de 1 dia e meio, onde pudemos conhecer o centro, fazer algumas compras na Andes Gear em um shopping a beira mar, conhecer o mercado Angelmó com dezenas de lojinhas de artesanato e pequenos restaurantes de frutos do mar.


Barcos em Isla Tenglo.

O passeio legal ficou por conta da Isla Tenglo, uma pequena ilha a apenas 100m da costa, para a qual atravessamos em pequenos barcos por apenas 500 pesos chilenos. A ilha é formada por dois morros, tendo em um deles uma pequena capela (fechada) e uma grande cruz branca que se enxerga a partir da cidade. A vista a partir da ilha é a melhor da cidade, pois pode-se enchergar a orla de Puerto Montt e também toda a enseada banhada pelo Oceano Pacífico.


Cruz em Isla Tenglo visível de toda Puerto Montt.

Mas nosso objetivo na ilha não era somente este. Queríamos fotografar os pinguins, indicados pelo guia Fodor's da Patagônia. A partir da cruz, procuramos a trilha que levava ao outro lado da ilha, local provável onde estariam as aves. A trilha foi percorrendo um ambiente totalmente rural, com pasto e bosques. Após mais ou menos uns 40 minutos, acabamos saindo em uma linda praia de seixos, com umas poucas casas de moradores locais e alguns deles catando mariscos na areia e nas pedras.


Visão da praia no lado sul da Ilha.


Águas do Pacífico.

O local era paradisíaco, cheio de gaivotas e outras aves menores, o mar azul transparente do Pacífico, o chão repleto de pedras, alguns cães que vieram conferir quem éramos, um barquinho ao longe e nada mais. E nada mais mesmo. Procuramos e perguntamos a uma senhora que estava com suas duas filhas pequenas próximo a uma das casinhas sobre os pinguins. Ela indicou que era filha do único pescador daquele lado da ilha (os demais locais eram todos pequenos agricultores), e que viviam há 5 anos ali e nunca tinham visto ou ouvido falar de pinguins no local. Já viram toninhas, leões marinhos e outros animais, mas não pinguins.


Mercado Angelmó.

A falta dos pinguins não chegou a frustrar, pois o local era realmente belíssimo. Acabamos retornando pela praia, dando a volta em metade da ilha, até o trapiche para tomar o barco de volta. Embora cansativo por ter que caminhar sobre pedras por 1 hora, valeu a pena.

Pucón e Villarica

Atrasadíssimos no blog por falta de tempo e cansaço, mas vamos lá!!! No dia 17, para descansar da subida ao topo do vulcão Villarica, resolvemos ficar por Pucón passeando. Aproveitamos que o Marco, gaudério por natureza, queria ir a cidade de Villarica para comprar umas esporas chilenas e fomos juntos para conhecer.


Gi na "ruca" Mapuche.

Villarica é uma cidade pequena, também a beira do Lago Lanquihue, mas com menos ares turísticos do que Pucón. Entretanto, as feiras artesanais são mais originais. Encontramos no centro um local onde existe uma "ruca" (oca) Mapuche, pertencente a uma instituição que tem por objetivo manter a cultura nativa ensinando os costumes às crianças. Tivemos a oportunidade de conversar com um senhor mapuche, comprar alguns óleos produzidos por eles e também casca de Canelo (Foyer), que serve como incenso quando queimado.


Marco e Gi no almoço mapuche.

Mas a melhor pedida foi saborear um prato nativo mapuche, uma espécie de sopa quente de legumes com um pedaço de carne e meia espiga de choclos (milho). Muuuito bom, com bastante ají (pimenta local)!!!

Depois, demos uma volta pelo calçadão a beira do lago, mas sem a tradicional visão do vulcão Villarica, que mais uma vez estava encoberto e não quis "dar as caras" para uma foto.


Carine e Gustavo na comemoração do aniversário dela.

A noite, de volta em Pucón, fomos a uma pizzaria para comemorar o aniversário da Carine, embalados por videoclips dos maiores hits dos anos 70, 80 e 90! Tava muito legal. A festinha serviu também de despedida do grupo, pois no dia seguinte tínhamos rumos diferentes: Marco retornando para Porto Alegre (via Junin de Los Andes e Buenos Aires), Gustavo e Carine indo para San Martin de Los Andes, e eu e a Gi partindo para Puerto Montt.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Vulcão Villarica


Lago Tinquilco, Pucón.

No dia 15 levantamos acampamento, nos despedimos do Lago Tinquilco e do camping Olga, e partimos de volta a Pucón, saindo do Parque Nacional Huerquehue com a certeza de ter passado por um dos locais mais belos de toda a viagem. Deixamos lá duas coisas por fazer para um próximo verão: a trilha "Los Lagos" e o banho nas termas a noite.

Em Pucón, ao chegar, fomos direto matar a fome em uma lancheria e procurar hospedagem. Resolvemos ir para um hostel para descansar um pouco da vida de barraca. Achamos um bem legal, Hostel Sofia (na rua Brasil, 660), onde ficamos em um quarto para os cinco com banheiro privado, wifi, uma cozinha enorme e sala super confortável, com sofás grandes e com TV a cabo. Na pousada estavam também uns australianos com caiaques de corredeira, certamente para a descida do rio Trancura, conhecido no mundo todo.


Marco e Gi em frente a Mountain Life Adventure.

Resolvida a questão da hospegagem, fomos em busca de uma operadora para agendar a subida ao vulcão Villarica. Atualmente a CONAF, órgão que regulamenta os parques nacionais no chile, só permite a escalada ao cume do Villarica com acompanhamento de um guia de montanha. Um dos motivos é que no ano passado houve uma avalanche, onde um brasileiro sofreu uma queda considerável (mas ficou bem depois). O Marco, que estava nos acompanhando, tem larga experiência com escalada em rocha e montanhismo, e trabalha há bastante tempo com resgate em altitude (prestando serviços também para indústrias, em situações de risco e resgate de operários). Entretanto, não estava com sua carteira de montanhista no Brasil, de forma que não poderíamos subir sem contratar um guia chileno. Conseguimos então por um preço melhor que a média contratar o pessoal da Mountain Life Adventure, e a aventura ficou marcada para as 6hs da manhã do dia seguinte.

Após uma noite confortável em uma cama, e um café da manhã preparado pela Gi, partimos para o local de encontro, na operadora, somente com nossas mochilas leves com água, lanche (incluindo balinhas, que descobrimos na prática, no Aconcágua, serem ótimo "lanche" de trilha, pois vão liberando o açúcar aos poucos diminuindo a fome e a lezera, e que desde então são obrigatórias para qualquer trekking), luvas de ski, tocas, balaclavas e casacos e calças impermeáveis. A operadora fornece todo o equipamento necessário: capacetes, crampons (pinos de ferro para as botas, para caminhar na neve), piolet (uma espécie de picareta), polainas (para não entrar neve nas botas), mochilas e inclusive as roupas impermeáveis, mas preferimos usar as nossas.


Gi em frente ao furgão preto da "Operação"

Da operadora partimos com o guia principal, Jason, mais dois assistentes de montanha e outros três "turistas". Nossa condução era um furgão preto, com vidros escuros. Com capacidade para 12 pessoas, parecia mais que estávamos indo para um assalto a banco do que para o vulcão, lembrando filmes como "Breakpoint" e "Cães de Aluguel". A ida já foi divertida, embalada pelas bobagens da Gi e do Marco.

Após uns 40 minutos chegamos ao Parque Nacional Villarica e um pouco mais adiante a base do vulcão. A imagem era impressionante, uma montanha nevada e fumegante, na forma de um cone apontado para o céu. O furgão nos levou até o local onde pode-se tomar um teleférico para subir direto aos 1400m (utilizado por esquiadores no inverno). Utilizar a condução era opcional, e óbvio que em um grupo como o nosso a escolha foi fazer o percurso caminhando, desde a base do vulcão.


Início da caminhada rumo ao cume do Villarica.

O início da trilha foi em rocha e terra, com os banquinhos do teleférico passando uns 15 metros acima das nossas cabeças. Após uns 45 minutos de uma subida forte, chegamos a área onde se iniciava a neve. Um pouco arrependidos de ter feito o início a pé (pois já nos sentíamos exaustos), nos preparamos para a verdadeira subida rumo ao cume, pela neve. Crampos colocados nas botas, piolets em mãos, luvas e casacos para o frio, óculos de sol no rosto, iniciamos a subida após uma breve explicação do guia Jason sobre como caminhar na neve sem se machucar com os crampons, utilizar o piolet como apoio e para freiar em caso de escorregarmos montanha abaixo (é, bem "animador" mesmo).


Nosso grupo rumo ao cume.


Parada para descanso e lanche

E assim começou o desafio do dia: alcançar os 2847 metros de altitude do vulcão Villarica, uma subida fortíssima que nos tomou 5 horas de caminhada, 90% do tempo em zigue-zague pela neve. Realizamos ao todo 3 paradas maiores (15 min.) para lanche, água e até um xixi na neve (que dá uma culpa e pena de fazer, pois dá pra sentir que estamos agredindo a natureza em um local tão belo e singular). Em alguns momentos a sensação era de que não terminaria nunca. O cume as vezes parecia perto, e em outros momentos muito distante. Principalmente quando olhávamos e víamos umas "formiguinhas" alguns metros mais acima, percorrendo os caminhos que faríamos em seguida. A vista da região ficava mais linda a cada metro escalado. Era possível avistar o vulcão Lanin e o Quetrupillan, que também tínhamos visto do Cerro San Sebastián no Parque Huerquehue. Abaixo de nós, antes do solo, nuvens espessas que pareciam um mar branco, com montanhas que despontavam como ilhas negras.


Outro gupo mais acima, na antiga estação do teleférico.

Tínhamos até as 14hs para alcançar o cume, sendo que chegamos nele as 12h15min. A sensação é aquela mesmo que se espera, de vitória, de conquista. Naturalmente sai da boca de todos um "graças a deus". A nossa frente, a grande cratera, mais ou menos do tamanho de um estádio de futebol. Alguns cientistas estavam no local com equipamentos de aferição e um longo cabo estendido de um lado a outro da cratera, que expelia fumaça sem parar. Ao tentarmos nos aproximar, fomos recebidos por uma fumegada de um gás morno e sufocante: enxofre. Mesmo com lenços ou balaclavas no rosto era impossível ficar próximo. A fumaça era muito forte, queimava os olhos, narinas, com um odor nauseante. Realmente bloqueava a respiração. Ficamos por ali, explorando uma das bordas e fugindo da fumaça por uns 20 minutos, até que os guias nos chamaram para iniciar a descida.


Finalmente, eu e a Gi no cume.

Começamos a descida a pé, pelo mesmo caminho, até chegarmos a um ponto mais seguro onde os guias nos indicaram que iniciaríamos a descida de outa forma, de "ski-bunda". Dentro das mochilas carregávamos um outro equipamento específico para a atividade. Uma espécie de capa bem grossa de cordura (mesmo material utilizado em mochilas e coletes de mergulho), que deveriam ser fixadas a nossa cintura e pernas, protegendo nossos traseiros da neve gelada. De início confesso que fique com bastante medo, pois não gosto nem um pouco de descidas em velocidade (como as de montanhas-russa e parques aquáticos). Mas após um pouco de receio, e apoio da Gi, resolvi me arriscar. Iniciei a descida colado na Gi, mas assim que senti confiança no uso do piolet para reduzir a velocidade e travar se necessário, literalmente me soltei e desci "xispando" montanha abaixo. A sensação era muito legal. Por vezes descíamos por canaletas formadas por descidas anteriores de outros montanhistas. Com as pernas acabávamos formando pequenas correntezas de neve nas canaletas, e em um momento cheguei a descer flutuando em um rio de neve arrastada pelo meu próprio peso. Foram várias descidas que nos levaram de forma muito mais rápida a base do que se caminhássemos todo o percurso da volta.

Algo que nos impressionou mais uma vez foi a mudança rápida do clima. Subimos com um céu azul e, na metade da descida, já estávamos com um céu encoberto e uma densa neblina alcançando a montanha. Quando olhei para cima e não vi mais o cume, devido a neblina branca que havia se formado, entendi porque um dos guias nos apressava para a descida. Incrível como conhecem a montanha, pelo tempo de experiência no local, algo que confirmamos conversando com o guia Elias posteriormente. Agradeci a mim mesmo por ter decidido descer de "ski-bunda", senão estaria lá no meio da neblina com todo o vulcão para descer.


Gustavo próximo a cratera do Vulcão (Gi ao fundo).

Já de volta ao furgão da "esquadrilha da morte", o sono e a fome batendo, e a sensação de realização, quase que não acreditando que tínhamos subido tudo aquilo e enfrentado o grande esforço que foi chegar ao cume do Villarica. Ali um único desejo: o de um banho bem quente para descongelar os ossos e os pés molhados pela neve na descida. Até mais Villarica.

Mais fotos no Flickr.

sábado, 16 de janeiro de 2010


Camping em Playa Grande, Pucón.

Chegamos em Pucón no dia 12 pela manhã, após uma noite de viagem. O dia estava bastante nublado por aqui, de forma que não víamos nem sinal do vulcão Villarica ou mesmo das montanhas no entorno. Após conseguirmos informações no centro da cidade, nos dirigimos para acampar em um camping a beira do lago.

O camping em Playa Grande bem agradável, com bastante vegetação, várias duchas e banheiros. Passamos o resto do dia no local, cozinhando, conversando, rindo bastante juntos. No dia seguinte, dia 13, pela manhã, acordei bem cedo e fui a beira do lago tentar bater algumas fotos. Mesmo com o amanhecer nublado, consegui pegar algumas fotos do vulcão Villarica ao fundo da cidade. Lá pelo meio-dia, após levantar acampamento, fomos ao centro para pegar um ônibus para o Parque Nacional Huerquehue, que vimos em um guia antes da viagem e em folders da Secretaria de Turismo.


Travessia das mochilas para o camping Olga.

Chegando ao parque, primeiro tomamos um susto com os valores: 4mil pesos chilenos para ingressar, e 15 mil pesos por barraca para acampar! Um roubo. O Marco se indignou, pois está acostumado a acampar em parques nacionais na Argentina sem custos adicionais além do ingresso. Após ficarmos na discussão por umtempo, se aproximou um rapaz, canadense, oferecendo-nos camping por apenas 8mil pesos. Foi a maior dentro que poderíamos dar. O rapaz nos conduziu por uma pequena trilha ao lado do lago Tinquilco, enquanto nossas mochilas foram colocadas em um bote a remo que atravessou ao outro extremo do lago.


Curtindo o por do sol no lago Tinquilco.


Pelado desnudo no lago a 8,6 graus.

O camping Olga era simplesmente o paraíso... encravado no meio da natureza, cheio de montanhas com florestas ao redor e a beira do lago Tinquilco, alimentado por um pequeno rio de águas cristalinhas de degelo das montanhas. Após montar acampamento em espaços bastante reservados, fomos direto curtir o visual do lago. Um espetáculo, que tinhamos visto anteriormente no máximo em documentários da National Geographics. Rolou até um banho no lago com temperatura de 8,6 graus medidas no relógio do Marco. Não resistimos a tanta beleza.


Trekking.


Pampas Quinchol, a 1500m altitude.

No dia seguinte, após uma noite bem tranquila, partimos para um trekking de 26 km, com desnível de 1200m pelas trilhas Quinchol e San Sebstián, até o cume do Cerro San Sebstián com 1950m de altitude. A trilha era bastante forte, a maior parte do tempo no meio da floresta. As árvores impressionantes, imensas, cobertas de musgos, liquens e "barbas de bode". Algumas delas totalmente secas, resultado de um grande incêncio há muitos anos atrás. Após um grande trecho de floresta, chegamos ao ponto do Pampa Quinchol, onde pudemos ter a primeira vista dos vulcões Lanin, Villarica e Quetrupillán... uma loucura. Após um lanche mais reforçado, partimos para a segunda etapa rumo ao cume. Já na parte final, tivemos que fazer várias "escalaminhadas" e transpor algumas rochas, passando por áreas cobertas com neve na encosta do morro. É bacana ver ali, aindano verão, algumas áreas com neve de até 1 metro acumulada. Até não dá para entender como que com tanto sol, e calor que fazia lá em cima, não estava tudo derretido.


Trechos com neve na montanha.


Uma das vistas do cume do Cerro San Sebastián.

A chegada ao cume nos deu uma sensação maravilhosa. Poder andar pela crista da montanha até chegar ao ponto mais alto. A vista, de 360 graus, mais uma vez fantástica. Além dos vulcões, os vales, diversos lagos azuis, verdes e outras montanhas gigantescas cobertas de neve. Após alguns minutos no cume e 6 horas de trekking para subir, nos restava a descida. Mais 3 horas de trekking em retorno pelo mesmo caminho. Sentimos bastante o cansaço, pois a descida força joelhos, pés e coxas, e o calor estava forte. Chegando ao acampamento, o banho recompensador novamente no lago gelado, perfeito para desinchar a musculatura e relaxar com o por do sol.


Eu, no cume do Cerro San Sebastián a 1950m de altitude.

A noite, nos juntamos com outros viajantes a beira da fogueira, para comermos as duas trutas pescadas no lago pelo Marco com o pessoal do camping (de bote). Encontramos pessoal do nordeste, São Paulo, Sydney, Israel e outros locais. Após a janta, antes de ir dormir, resolvi estivar até a beira do lago. Me deitei dentro de um dos botes, desliguei a lanterna de cabeça, e fiquei curtindo o céu mais espetacular que já vi, em plena escuridão. Eram tantas estrelas que eu não sabia para onde olhar. tantas que iluminavam a fumaça que saia do lago e marcavam a silhueta das montanhas ao redor. Aguardei uma última estrela cadente e fui dormir, louco para passar a madrugada ali ao relento.


Vulvão Villarica fumegando.

Agora estamos de volta em Pucón, e amanhã cedo (16/01) vamos fazer a subida ao vulcão Villarica, o segundo "ponto alto" da viagem. Não vemos a hora.

Santiago do Chile


 Caracóis a caminho de Santiago.

Passamos rapidamente por Santiago. Chegamos a cidade no final da manhã, após virarmos a noite viajando no ônibus que pegamos em Uspallata. Da rodoviária, pegamos o metro que nos deixou bem próximos ao hostel em que combinamos com nossos amigos Gustavo, Carine e Marco de nos encontrarmos.


Entrada do parque do Cerro Santa Lucía.

Largamos nossas coisas no Hostel Forestal e, como não encontramos o pessoal, saímos na mesma hora para conhecer um pouco a cidade. Este hostel está localizado ao lado do Parque Forestal, em uma ótima localização. Dali tínhamos várias opções de passeio próximos. Resolvemos ir até o Cerro Santa Lucia, local histórico da cidade. O Cerro é um parque lindíssimo, vertical, no meio de uma Santiago Plana. Belas construções antigas, estátuas e inúmeros recantos distribuídos nos diversos níveis do parque. Ao chegar ao topo, é possível vislumbrar grande parte da cidade, com a cordilheira ao fundo.


Vista de Santiago.


Torre no topo do Cerro Santa Lucía.

Após o Cerro Santa Lucia, passeamos pelo Parque Florestal, frequentado por pessoas de todas as idades. Vários artistas de rua estavam fazendo sua performance: um mímico divertia uma centena de pessoas ao fazer palhaçadas em meio ao trânsito, músicos tocavam e cantavam suas cançoes, enquanto os "carabineiros" controlavam tudo com seus cães pastores em companhia.


Patio Bellavista.

Do parque, visitamos ainda uma rua bastante movimentada por vendedores ambulantes e o belo Pátio Bellavista, com ambiente agradável cheio de bares e lojas de artesanato. Após apreciar um pouco da cultura local, retornamos ao hostel para encontrar nossos amigos. E lá estavam os três, com mais um monte de brasileiros (maioria do nordeste), alguns americanos, um belga e uma holandesa, um japonês e outros.


Hostel Forestal.

O Hostel Forestal está de parabéns, ótimo ambiente, 3 excelentes banheiros sempre muito limpos, água bem quente, ótima cozinha e espaço de lazer com um mesão de sinuca. Diversão e confraternização garantida para jovens de todo o mundo. Entre o pessoal que estava lá, encontramos um casal que está há 3 anos e meia pedalando pelo mundo, e pretendem continuar por mais 2 anos e meio (depois vou contar mais sobre eles no blog 40milkm). A noite fizemos uma massa e ficamos de papo até altas horas.


Aguardando metrô em Santiago.


Mall Sport.

No dia seguinte, reservamos nossas passagens para a noite para irmos para Pucón, estavamos todos loucos para deixar a cidade grande e poluída e partirmos logo de volta para a natureza. Como o ônibus era somente a noite, fomos as compras. Partimos direto para Las Condes para o Mall Sport, um shopping somente com lojas de esporte. O local e um paraíso, nunca vimos nada igual. Além das lojas especializadas nos mais diversos esportes, estruturas para lazer com arvorismo, escalada indoor, onda artificial para surf, um pequeno lago com veleiros, pista de skate, pista de autorama e pista para bike free-ride. Talvez seja o único shopping onde é permitido andar de skate e de bike dentro. Só não enlouquecemos mais porque os preços estavam salgados, praticamente os mesmos do Brasil. Compramos somente coisas diferenciadas, mais difíceis de encontrar no nosso país.

Após o shopping, voltamos ao hostel para pegar as mochilas e partimos para rodoviária para aguAardar o ônibus para Pucón. Sobre Santiago, uma cidade bem legal, mas cara para comer e ficar.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Lugares mágicos

Pessoal, vou segurar um pouco os textos sobre os demais dias no Aconcágua, pois preciso recuperar o tempo sem internet, dar uma editada de leve nas fotos (na corrida) e escrever, para voltar a atualizar com as informações mais recentes de onde andamos.


Prédios da antiga estação de trem em Puente del Inca.


Prédios da antiga estação de trem em Puente del Inca.

Neste sábado, 09, fomos de um lugar mágico a outro. Passamos a manhã em Puente del Inca, descansando ainda dos trekkings no Aconcágua, e apreciando esse local fantástico, com uma energia muito forte em relação ao livre arbítrio da própria natureza. Tanto a formação da ponte natural batizada por ser rota dos Incas entre o Peru, Chile e Argentina, quanto pela demonstração de força e vontade da natureza com o resultado dos tremores de terra que vieram a acabar com a vontade do homem no local.

Ao meio-dia conseguimos pegar um ônibus de volta a Uspallata (os planos eram para as 20hs somente), de onde pretendemos neste dia 10 embarcar para Santiago. O nome Uspallata também é de origem incaica, de "Usya" e "Pallata", que significa "a garganta preferida", denominado assim pelos Incas por terem se deparado com este longo vale e região fértil quando se destinavam a Mendoza.

Em Uspallata (até agora nosso local preferido - fora o Aconcágua), almoçamos e resolvemos descansar um pouco pois o sol estava muito forte e já estamos castigados da montanha. Ao cair da tarde, decidimos alugar duas mountain bikes com o pessoal da Desnível Aventura, uma das agências de aventura locais, e nos dirigirmos por 7km até o Tunduqueral, local onde nos informaram existirem inscrições rupestres nas rochas.


Área rural de Uspallata.

Fomos em ritmo de passeio por uma estrada que sai do centro da pequena vila e segue por uma bonita região rural, com fazendas, campings, pousadas rústicas e pequenas casas do povo local. Passamos na mesma estrada por um dos cartões postais da cidade, uma parte da via com alamos plantados em ambos os lados, formando um corredor verde.



Caminho para Tunduqueral.

Logo em seguida, após uns 3km de pedalada, entramos mais uma vez na região desértica que circunda Uspallata. A paisagem lembrou rapidamente os desertos dos filmes Mad Max, com aquela longa estrada em linha reta a nossa frente em meio a um ambiente árido. A nossa direita as montanhas da Pré-cordilheira (a qual realizamos um trekking conforme post anterior). A nossa esquerda, mais ao longe, a Cordilheira do Tigre com suas montanhas gigantescas. O caminho de terra nos levava cada vez mais para dentro do deserto, onde só se viam montanhas.


Entrada do sítio arqueológico.

Ao fechar os 7km, encontramos uma porteira com a sinalização: Cerro Tunduqueral, e uma breva apresentação do parque. Seguimos mais 300 metros em uma estradinha aberta no meio da vegetação rasteira até a área de recepção, quando então demos de cara com o encarregado fechando o portão, pronto para ir embora. Eram 20:10 e o horário de visitação era até as 20hs. Antes mesmo dele passar o cadeado, já sinalizamos que gostaríamos de visitar o local, pois iríamos embora no dia seguinte. Nos propomos atrevidamente a pular a cerca ao ir embora de forma que não precisasse nos esperar. E prontamente, de forma muito receptiva e atenciosa, assim como todos tem nos tratado na Argentina, o rapaz nos liberou a entrada, pegou sua bicicleta e partiu.


Petroglifos em Tunduqueral.

E lá estávamos nós, eu e a Gi, em um pequeno sítio arqueológico, no meio do deserto, totalmente a sós. Primeiro bateu uma estranheza, até nos darmos conta que estávamos em um local fechado e com quilômetros e mais quilômetros de nada! Deserto! Foi incrível! Largamos as bikes empolgados e subimos rapidamente o pequeno morro formado por pedras no meio daquela planície toda. As inscrições, ou melhor, petroglifos, estavam distribuídos por várias pedras no local, datando de mais de 1000 anos. O Cerro Tunduqueral era utilizado pelas mulheres nativas durante a lua cheia em rituais de celebração.


Local mágico.
(perdoem o horizonte, ainda não deu tempo de corrigir e provalmente
foi o encantamento do local que moveu as montanhas, e não eu).

A sensação foi fantástica, literalmente de estar em um local mágico. Só de pensar nas pessoas que estiveram ali por muitas vezes há tanto tempo atrás, somada àquela vastidão inédita aos nossos olhos, foi de emocionar. Não resisti e dei um grito bem alto: "Uspallataaaa"!


Jones, Indiana Jones.

A volta de bike pelos 7km até a cidade foi muito mais leve, com a alma limpa. Valeu muito a pena.


Saída do parque, após "pularmos" a cerca.
(Ok, o cadeado estava aberto confiantemente a nossa espera. Fechamos).


Mais fotos no Flickr.
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