terça-feira, 29 de março de 2011

Do deserto ao gelo na Patagônia

A última semana foi bastante corrida. Em Puerto Madryn, conheci no tour pela Península dois espanhóis (Daniel e Raquel) e acabamos combinando de descer juntos de carro rumo ao sul. Conseguimos com o guia argentino Martin, da agência Categoria Patagônia, acertar para nos levar de carro (a mesma Ranger 4x4 do passeio pela península) até Rio Gallegos. A Raquel ainda conseguiu um suíço (Michel) para ajudar a dividir os custos da viagem.


Acabou sendo a melhor opção para ir para o sul, já que de ônibus ou avião não teria visto nem um quinto do que vi e fiz nos 5 dias de viagem que fizemos, além de ter feito bons amigos. O Martin então é um grande cara, fez de tudo para nos agradar, o tempo todo. Pagou até café da manhã (com os maravilhosos folheados de tudo quanto é tipo que tem aqui) e uma noite de hospedagem em uma cabana. O Martin curte muito fotografia, natureza e aventuras, então nos demos muito bem. Deixamos até meio combinado para em novembro eu voltar a Madryn para fazermos uns acampamentos mais selvagens (sem ser pela agência) e para outubro de 2012 fazermos juntos uma travessia que ele já fez há 3 anos, de Puerto Madryn, na beira do Atlântico, até Puerto Montt, no Chile, na beira do Pacífico. Foi uma travessia a pé, em 46 dias, passando pelos desertos da Patagônia em uma estrada remota, junto com um outro amigo e um cavalo que levava a água. Pararam em algumas estâncias no caminho onde foram muito bem recebidos pelos moradores e ao final cruzaram os Andes na região dos lagos.

Bom, nesta viagem de 5 dia, passamos por Punta Lomas, onde descemos as falésias até uma pequena colônia de elefantes marinhos, onde pude tirar fotos muito de perto destes. Tendo a "manha" para se aproximar eles se mantem calmos, mas tem que chegar uma pessoa por vez, agaichada e se manter deitado no chão depois para que não se assustem ou não resolvam entfrentá-lo.


Martineta


Pichi

Zorro Gris

Neste primeiro dia, acampamos na pequena cidade de pescadores Camarones. O que foi muito bacana nesta viagem, é que por centenas de quilômetros andamos por estradas de "ripio", fora da tradicional Ruta 03, asfaltada. Foram estradas pelas quais não cruzamos praticamente com nenhum carro, com muito poucas estâncias no caminho e com a oportunidade de ver muitos animais selvagens. Vimos guanacos, peludos e pichis (dois tipos de tatus), choiques (parecidos com a nossa Ema), maras (parente do coelho, o maior da América Latina) , lebres, zorro gris (uma pequena raposa) e muitas aves, como a martineta, o flamingo e o carancho (carcará).


Flamingos


Caranchos


Guanacos

Antes de Camarones, quando desci do carro e corri estepe adentro para tirar foto de um pichi, acabei perdendo meu SPOT GPS Messenger (o estojo preso a um mosquetão arrebentou), o que me dei conta 70km depois em Camarones, já a noite. Parece mentira, mas eu e o Martin no outro dia pela manhã, bem cedo, voltamos e encontramos o GPS no meio da estepe patagônica. Foi como achar uma agulha no palheiro. Mas foi graças as técnicas de orientação aprendidas nas corridas de aventura. Calculei o tempo que percorremos a partir das fotos tiradas no local e em Camarones, calculei a distância provável e ainda usamos como referência o horizonte (na verdade uma parte plana de uma pequena elevação no terreno, com alguns arbustos mais escuros, como é possível ver na foto abaixo) par poder encontrar. Funcionou, o Martin que ahou enquanto fazia uma busca circular em um ponto e eu em outro. Fantástico.

Foto referência para encontrar o GPS.

Depois de Camarones, fomos para a linda Puerto Deseado, onde existe uma "Ria" em que o mar entra 50km para dentro da costa, no lugar de um rio de água doce existente a 12 mil anos atrás quando ainda havia geleiras por ali. O local foi visitado e elogiado pelo próprio Charles Darwin em sua viagem pela costa do Atlântico, junto com Fitz Roy, nas embarcações Beagle e Adventure. A partir de Puerto Deseados, visitamos a 250km de distância o Bosque Petrificado, com uma formação geológica que te faz sentir na pré-história. É um deserto cheio de "mesetas", montanhas cônicas com platôs retos como uma mesa no topo. As árvores petrificadas, tombadas, chegavam a ter 2 metros de espessura, algo realmente incrível.




Árvores petrificadas

Ainda em Puerto Deseado, fizemos uma saída de barco até a Isla Pinguinos, local onde há uma grande pinguinera de Pinguins de Magalhães, colônias de lobos marinhos e uma colônia de aproximadamente 400 casais do Pinguin do Penacho Amarelo, animal que só é visto neste local e nas Ilhas Malvinas. São lindos. Foi emocionante ver animal tão raro, e encantam por sua tranquilidade.


Pinguim do Penacho Amarelo


Lobos marinhos machos

Lobos marinhos machos

De Puerto Deseado fomos descendo por outros caminhos fascinantes até chegar em Rio Gallegos, cidade a partir da qual se cruza para o Ushuaia. A idéia inicial era ir para lá. Mas no momento de comprar a passagem, na rodoviária, resolvi trocar o destino e vim para El Calafate, onde me encontro agora, já que a previsão do tempo para Ushuaia nos próximos 10 dias era de chuva. O resto do pessoal foi para Ushuaia, já que a oportunidade para voltarem uma outra vez era bem mais remota, pela distância dos seus países de origem.

Glaciar Perito Moreno

Glaciar Perito Moreno

Eu

Big Ice

Aqui em El Calafate, realizei hoje um trekking de 7 horas, sendo 4hs sobre o Glaciar Perito Moreno, que faz parte do Campo de Gelo Sul, terceira maior área de gelo permanente no mundo, depois da Antártida e da Groenlândia. Indescritível a experiência. Eu já tinha andado sobre o gelo na ascenção ao vulvão Villarrica no Chile, mas era uma subida "lisa". No Glaciar se caminha o tempo todo subindo e descendo as formações "artísticas" criadas pela natureza, ao lado de pequenas e grandes gretas, sumidouros e até um lago azul sob o gelo. Almoçamos na beira do lago, em meio ao Glaciar. Foi bem cansativa a experiência, mas ao mesmo tempo incrível.

Queda de um bloco de gelo

Nesta terça me vou para acampar no lago La Roca, um local que dizem ser belíssimo aqui em El Calafate, voltando só na sexta-feira para sábado tomar um vôo para Porto Alegre, outra mudança nos planos, mas por um excelente motivo que vou contar só no próximo post.

terça-feira, 22 de março de 2011

Península Valdez

A Península Valdez para mim era como se fosse um mito, uma lenda. Desde 1996 quando assisti a uma palestra de um mergulhador que veio com um grupo de amigos brasileiros e argentinos para este local para tentar mergulhar com baleias, nunca mais tirei da cabeça a idéia de vir até aqui um dia.

Pois neste último sábado, 19 de março de 2011, 15 anos depois, eis que rumei para conhecer a tão sonhada península. E não decepcionou. Ao contrário, surpreendeu pela beleza como tudo até agora na Patagônia.

Segui novamente de Ranger com um guia da agência Categoria Patagônia, já que o parque tem 300km de estradas de ripio para percorrer, juntamente com uma brasileira, Lisa, de Recife, e dois espanhóis, Daniel e Raquel. O guia, Martin, se mostrou uma grande figura, muito alegre e motivado, e grande conhecedor dos animais da região e de cada cantinho da Península, incluindo pontos fora da rota normal.

Partimos de Puerto Madryn as 7h30 da manhã e nos dirigimos direto para Punta Norte, com a intenção de chegarmos lá no horário da primeira maré alta e ficarmos o máximo possível de tempo para tentarmos avistar Orcas. Punta Norte é um local de reprodução de leões e elefantes marinhos, e as Orcas aproveitam as marés para realizarem ataques a praia para se alimentarem destes, chegando a tirar o corpo todo fora da água na beira da praia. A Península Valdez é o único local do mundo onde isto acontece (e apenas entre março e abril), e ter a oportunidade de assistir é algo realmente raro. Chegamos em Punta Norte as 10hs da manhã, e fomos direto para a área delimitada para observação da praia e da colônia de lobos marinhos.

Punta Norte

Loberia de Punta Norte

Fêmea e vários filhotes

Ao todo de 4 horas que ficamos no local, tivemos a oportunidade de ver em dois momentos, duas orcas passarem em frente a praia, subindo à superfície para respirar e, claro, em busca dos lobos. Na primeira vez, uma das orcas chegou a tentar um ataque através de um dos 3 canais por entre os arrecifes que estão em frente a praia (encobertos pela água na maré alta e totalmente a mostra na maré baixa, mudando completamente o cenário da praia), mas infelizmente um pouco longe. Na segunda passada, as duas orcas ficaram por mais de 20 minutos perseguindo e cercando um lobo marinho jovem, que resistiu o máximo que pôde aos ataques. Embora com pena dos lobos marinhos, é uma cena que impressiona e hipnotiza, pois mostra a natureza em sua forma mais selvagem e pura.

Filhotes brincando na maré baixa

Orca tentando um ataque, observada por um lobo marinho na praia

Um Peludo

De Punta Norte, após nos divertirmos ainda vendo as peripécias de alguns "Peludos", um tipo de tatu da região, seguimos rumo ao sul pela parte externa da Península, para conhecermos a Caleta Valdez, uma canaleta gigante por onde entra a água do mar e ficam também abrigados milhares de pinguins. Em todo o caminho, também foi possível observar famílias de Guanacos e de Choyques, uma ave parecida com a nossa Ema do Rio Grande do Sul.

Caleta Valdez

O grupo na Caleta Valdez (Lisa, Daniel, Raquel e Martin)

Grupo de Guanacos

Choyques

Da Caleta, partimos para o pequeno vilarejo de Puerto Pirâmides, com seus atuais 600 habitantes. Martin aproveitou a Ranger para nos levar por caminhos sobre dunas de areia, para um visual espetacular da pequena vila acima das falésias. O local é um paraíso para se descansar, com o mar praticamente parado como uma piscina, penhascos ao redor e uma bela extensão de areia onde várias pessoas tomavam banho de sol e de mar. Aproveitei para fazer um pequeno trekking deste ponto descendo por uma trilha entre as dunas e falésias, enquanto o resto do grupo seguiu de Ranger por outro caminho que contornava o vilarejo até a outra ponta.

A Ranger nas dunas de areia

Vista exclusiva de Puerto Pirâmides graças ao Martin

Em Puerto Pirâmides fomos ainda visitar uma outra "loberia", onde se fica bem acima da colônia de animais. Pudemos ver mais de perto os machos e fêmeas descansando em terra firme, enquanto os filhotes, arteiros como cachorros, brincavam dentro e fora da água, muitos destes entrando e saindo sem parar.

Loberia de Puerto Pirâmides

Terminamos o passeio assistindo a um pôr-do-sol fantástico, acompanhado do nascer da lua cheia no lado oposto. Indescritível. Ainda mais que, não sei o porque, o céu aqui na Patagônia parece gigantesco, maior do que normalmente vemos. É uma sensação incrível. Nosso passeio terminou as 21hs em Puerto Madryn, muito além do horário normal do tour, graças ao "buena onda" Martin que estava tão empolgado quanto todos nós com a paisagem e os animais, como se os visse pela primeira vez.

Pôr-do-sol na loberia de Puerto Pirâmides

Lua cheia nascendo no lado oposto.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Punta Tombo e os pinguins


Nesta sexta-feira, tirei o dia para ir até a reserva natural Punta Tombo, local de nidificação dos Pinguins de Magalhães. Tive a sorte de pegar uma agência que leva grupos pequenos e fomos em uma Ranger 4x4, eu e mais duas meninas da Alemanha. No caso a única forma de chegar até a reserva é de carro, não há transporte coletivo e fica há 2h30 de Puerto Madryn, mais ao sul.


Punta Tombo entre os meses de setembro a novembro recebe em torno de 500 mil casais de pinguins de magalhães, que procuram o local para acasalar, colocar seus ovos e cuidar dos filhotes até que possam "embarcar" juntos para se alimentarem em águas brasileiras, a partir do final de fevereiro.



O local possui um caminho delimitado por onde as pessoas podem andar, mas isto não impede que se possa ver os pinguins muito de perto. Por toda a área, inclusive ao lado do caminho, há pinguins em seus ninhos. Quando chegam em terra nos meses de setembro e outubro, as fêmeas ficam na beira da praia enquanto os machos sobem a costa até 1km adentro para escolher o local para o ninho. Os melhores locais são sob os arbustos, para que fiquem protegidos de aves que queiram atacar os ovos e filhotes. Existe então uma grande disputa pelos melhores locais, onde os machos chegam a brigar e machucar uns aos outros.



Embora com apenas 30% dos pinguins nesta época, o local é muito bonito de se visitar. Impressiona bastante a quantidade de buracos espalhados pelo local, é uma imagem bastante interessante. Particularmente não tinha idéia que ficava desta forma.



Os pinguins são um sarro, caminham daquele jeito clássico, balançando para os lados, se coçam, limpam as penas, grasnam, e te olham curiosos enquanto tomam banho de sol. Este grupo que ainda está em terra está aguardando a muda completa das suas penas, para que possam então partir rumo ao norte.


Além dos pinguins, se avistam também diversos Guanacos, um animal parecido com as Llamas e Vicunhas, todos da família dos camelídeos. Isto que é bacana na Patagônia, você está muito próximo de animais selvagens e o país tem uma grande preocupação em protegê-los. Todos os parques são bem organizados e bem controlados, com vários guarda-parques trabalhando para que todas as normas sejam respeitadas e sempre dispostos a darem todas as informações necessárias.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Ventos patagônicos

Trapiche em Puerto Madryn

No Rio Grande do Sul reclamamos muito quando vamos à praia e o vento "nordestão" está batendo forte. Nunca mais reclamo. Saí hoje para conhecer a praia de Puerto Madryn. Quando saí estava friozinho, com uma leve brisa, mas com sol. Na metade da caminhada, o vento era tão forte que chegava a me desequilibrar, além de jogar meio quilo de areia na cara por minuto. Para caminhar contra o vento só fazendo força mesmo. Depois conversando com meu pai pelo Skype ele me passou uma imagem de satélite  mostrando um tornado se formando em frente a Argentina, que, embora afastado da costa, talvez tenha provocado este vento forte.



Caminhei vários quilômetros pela baia até chegar ao extremos sul da praia de Puerto Madryn. No caminho fiquei tirando fotos de gaivotas e outras aves que se alimentavam de peixes e siris. Ao final, o terreno muda do plano para algumas falésias, de cor bem clara e repleta de cavernas.





A esta altura, o vento estava realmente açoitando. Quando olhei para a cidade, ao longe, esta estava sendo literalmente invadida por uma tempestade de areia, da altura dos prédios. Me protegi por alguns momentos dentro de uma das cavernas, porque embora encostado nos paredões das falésias não tivesse vento, no topo destas tinha, o que provocava uma chuva de areia grossa que chegava a doer. Até para fazer foco nas fotografias estava complicado com o vento, não apenas por empurrar a máquina, mas porque era difícil manter o olho aberto sem lacrimejar. Aliás tive que proteger o equipamento fotográfico a caminhada toda, dentro do casaco, para não pegar areia. 

Tempestade de areia sobre a cidade.

Logo acima das falésias, além de um monumento em homenagem ao índio, há um prédio muito bonito, todo em madeira com um tipo de observatório, do Ecocentro de Puerto Madryn. Infelizmente estava fechado no momento que cheguei lá e só abriria 2hs mais tarde. Neste momento, deu pra ver que andar aqui pros lados da Patagônia pode ser sempre uma surpresa... o vento forte trouxe nuvens pesadas e negras, que parecia que ia desabar a maior água. Chegou a chuviscar um pouco, mas por sorte consegui voltar em passo apertado até a cidade sem me molhar, vendo a chuva passar do outro lado da bahia.


Ecocentro
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