sábado, 9 de janeiro de 2010

Aconcágua - Dia 1: trekking a Confluência


Puente del Inca pela manhã.

Chegou o grande dia. Acordamos as 6hs da manhã com o objetivo de sair bem cedo para evitar ao máximo o sol forte. Tomamos um "desayuno" improvisado e pedimos ao pessoal da cozinha do hotel 2 sanduíches para levar. Antes de sair, ainda descartamos mais alguns itens de nossos pertences, os quais deixamos em uma sacola com cadeado com a recepção (já tínhamos feito o mesmo em Uspallata, ou seja, ficamos com equipamentos espalhados pela Argentina para recolher na volta, tudo com o objetivo de reduzir o peso na montanha).


Entrada do Parque na Ruta 7.



Guarda-parque em Horcones.

As 7h50 iniciamos nossa marcha de 3km pela Ruta 7 em direção ao Parque Provincial Aconcágua, pela mesma estrada que leva ao Chile. Em aproximadamente 1h10 chegamos a entrada do parque, para caminhar por mais 2km, novamente morro acima, até a área do guarda-parque para apresentação dos "permissos" e início do trekking a Confluência propriamente dito. Chegamos no local as 9:34 e partimos as 9:50 após a apresentação da documentação e obtenção do saco de lixo, onde deveriam ser armazenados todos resíduos para entrega de volta na saída. Este primeiro posto de guarda-parque encontra-se já a 2.950m de altitude e possui atendimento médico e equipe de resgate, com helicóptero de prontidão.


Helicóptero para transporte e resgate.

Apesar de um desnível de apenas 450m distribuídos ao longo de 8,7km, a trilha até Confluência, o primeiro acampamento base para se chegar ao topo do Aconcágua, já exige um esforço considerável. A trilha, em boa parte do tempo no espaço certo para uma pessoa, vai acompanhando o vale e o rio Horcones (o mesmo que vimos na estrada), em partes planas e agradáveis, e em subidas íngremes e desafiadoras. Aos poucos a vegetação vai mudando, e algumas plantas e flores começam a dar lugar a cactos e pedras. Mesmo assim, até o final, a vegetação rasteira é constante, ao menos nas encostas das montanhas.


Caminho para Confluência.

O visual é um espetáculo. Em pouco tempo você já está envolto por montanhas de diferentes cores, formatos e "texturas". Algumas mostram claramente que se ergueram a partir da colisão entre as placas da crosta terrestre, pois as camadas de rocha que estamos acostumados a ver em canions na horizontal, estão na diagonal, apontando 45 graus ou mais de inclinação em direção ao céu. Ao fundo, em direção norte, sempre presente uma montanha completamente branca de neve, imponente: o Aconcágua.

A montanha mais alta do mundo fora da Ásia, com 6962m de altitude, e que inicialmente se pensava ser um vulcão devido a "fumaça" constante saindo de seu topo (que na verdade se revela sendo o vento forte levantando a neve no local), tem a origem do seu nome nos termos incas "Ackon", de pedra, e "Cahuak", o que vigia, batizando assim o "Sentinela de Pedra".


Passarinhos pedindo lanche.

Nossa primeira parada para descanso (sem contar as inúmeras paradinhas a cada terreno mais íngreme para tomar fôlego), aproximadamente as 12:15, é na ponte pensil de madeira e aço construída durante as filmagens de "Sete Anos no Tibet". Sentamos em algumas pedras próximas, antes de cruzá-la, para lanchar os sanduíches preparados no hotel. Logo que começamos a comer chegaram algun visitantes. Aliás, moradores locais: um grupo de passarinhos, amarelos, marrons, de cabeça verde, descaradamente querendo compartilhar nosso lanche. Acabamos nos surpreendendo com a coragem e a vontade dos mesmos, que realmente se aproximaram brigando por algumas migalhas, a ponto de pegá-las diretamente das mãos da Gisele. Acabamos ficando por ali e nos divertindo com eles por uns 20 minutos.


Ponte pensil sobre o Rio Horcones.

Retomada a caminhada e cruzada a ponte, começamos a sentir os efeitos da altitude conforme esta aumenta. Uma caminhada normal com uma mochila cargueira, pesada, nas costas já exige um bom fôlego. Com o ar cada vez mais rarefeito ainda mais. A trilha vai ficando mais íngreme e mais rochosa, e os bastões de caminhada acabam se revelando nossos maiores companheiros da aventura, já que facilitam muito o apoio nas escadas naturais, barrancos íngremes e descidas mais complicadas.


Em algum ponto a 3012m, e subindo!

Durante o trajeto cruzamos com muitas pessoas, algumas descendo de Confluência e outras, mais leves ou mais preparadas, nos ultrapassando em direção ao acampamento base. É constante também o tráfego de mulas, empurradas por cavaleiros mendocinos que as tocam ao som de "iuhiii", "uuhaaa", "bamos", "uooo" e assim por diante. As mulas sobem carregadas, transportando equipamentos, alimentos e utensílios para os acampamentos e para os montanhistas que pretendem chegar ao cume.


Cavaleiro e mula correndo para o acampamento base.

Após 6 horas de caminhada (sendo 4hs30min na trilha), várias paradas para fotos e descanso, chegamos a uma área mais aberta e de pouco aclíve, com um rio Horcones menos intenso, e, após uma longa curva avistamos finalmente a bandeira da Argentima, a cabana dos guarda-parques e as inúmeras barracas coloridas do Acampamento Base Confluência, denominado assim por dividir neste ponto as rotas para Plaza Francia e Plaza de Mulas, conforme a escolha de ascensão ao cume.


Confluência ao fundo.

Na chegada, novamente vamos direto apresentar nossa documentação e solicitar orientação para montar acampamento. Os guias nos indicam o local público para montar a barraca (alguns pontos são reservados às agências prestadoras de serviço), o local de "baño" público (neste caso banheiro somente, ou melhor, uma casinha com aquelas latrinas em que se fica acocado) e o local para obter água. Em confluência, a água é livre e abundante, basta ir até uma mangueira da largura de uma bola de tênis e pegar. A água vem do rio Horcones, em um ponto a quilômetros de distãncia dali, e é potável e em temperatura ambiente: quente durante o dia e gelada pela noite e manhã.


Almoço/Janta: massa e lentilhas.

Após montarmos rapidamente nossa barraca, e fixá-la amarrando-a em pedras para que não voasse com o vento, vamos direto preparar nosso almoço/jantar: uma bela massa com molho vermelho e uma lata de lentilhas cozidas. Após a deliciosa janta de acampamento, enquanto relaxava um pouco dentro da barraca, escuto um brasileiro procurando por "Rodrigo". Eis que tive o prazer de conhecer ao vivo, após um bom tempo de conversas pela internet, o querido fotógrafo e montanhista André Dib, que estava em Confluência na mesma data em aclimatação para tentar o cume junto a dois amigos.

Ficamos por ali conversando por um bom tempo, sobre os prognósticos da montanha, preparação, serviços das agências, temores e ainda dicas do André para o restante da nossa viagem ao Chile e Argentina. A conversa foi muito bacana, além de confirmar a grande pessoa que é o Andrém, sempre disposto a conversar e ajudar. Vamos ficar aguardando ansiosos pelas fotos do André do cume, feito ainda inédito na sua carreira (aliás André, faltou uma foto nossa!!!).


Vista da nossa barraca.

Por fim, 21:30 aproximadamente resolvemos nos acomodar na barraca, já que estava começando a esfriar e o cansaço não era pouco. Apesar do horário avançado, ainda era possível ler um livro, dentro da barraca, apenas com a luz do "dia". O sol se pôs por completo lá pelas 22hs. Adormecemos.

Mais fotos no Flickr.

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