Uspallata deserta pela manhã.
Saímos de ônibus de Uspallata as 8h30 da manhã do dia 04 em direção a Puente del Inca. A estrada por sí só é um show a parte. Vamos ingressando ainda mais no meio das montanhas, passando por cenários cada vez mais belos. Nos chamou muito a atenção o vilarejo de Potrerillos, onde o ônibus entrou para pegar algumas pessoas. Parece um local extremamente calmo, a beira de um imenso lago que reflete o sol e as montanhas.
O lago é alimentado pelo rio Horcones, que tem sua origem nas águas de degelo dos Andes, e acompanha praticamente toda a viagem, com suas águas turbulentas, propícias para o rafting e a canoagem, oferecidos por empresas locais. Nosso ônibus, inclusive, deixou na estrada um rapaz com um caiaque de águas brancas, pronto para encarar as corredeiras.
Já está anotado para uma próxima visita a região a hospedagem em Potrerillos e um rafting no Horcones. Outras duas ambições que se formaram no trajeto, foram a travessia dos Andes, pela mesma estrada, de bicicleta ou mesmo a pé. No outro lado da margem do rio, encostado nas montanhas, segue um trilho de trem desativado, que passa por barrancos, pontes de pedra e pequenos túneis escavados na rocha, que literalmente chamam para um passeio com mais calma (ou de mais aventura) para apreciar mais a fundo a região.
Chegada a Puente del Inca.
Chegando a Puente del Inca, a primeira coisa que fizemos foi procurar hospedagem, pois não tinhamos nada reservado e nossa intenção era podermos descansar um dia a mais antes de partir para o Aconcágua. Fomos direto a Hosteria Puente del Inca, a principal opção de hospedagem no local (há também um hostel e um modesto camping). A movimentação de saída do hotel era intensa, a maior parte de pessoas saindo com grandes mochilhas e grandes sacos de equipamentos, denunciando seu próximo destino ou, quem sabe, o anterior. Enquanto esperávamos a liberação de um quarto para o check-in, conhecemos um brasileiro, paulista, que estava de saída do hotel e acabara de descer do Aconcágua no dia anterior.
A "Puente del Inca" ao fundo.
Eram 11hs da manhã e Milani ia esperar o ônibus para Mendoza até as 20hs. Começamos a conversar então sobre a sua passagem pelo Aconcágua. Milani já estivera na montanha em 2003 e desta vez retornara para tentar o cume com mais dois amigos. Entretanto, um dos seus companheiros sofreu com o "Mal Agudo da Montanha" (MAM) após o trekking de aclimatação à Plaza Francia, e resolveram então abortar a expedição. A partir dali continuamos conversando sem parar, sobre dicas sobre o Aconcágua, livros, mapas e aventuras de ambas as partes. O paulista, de origem nipônica, acabou sendo nosso guia em Puente del Inca, nos levando não somente ao ponto tradicional das ruínas do hotel que desabou em um terremoto, mas a outros locais bacanas no entorno. É interessante comentar que a ponte natural ao lado das ruínas do hotel provavelmente teve sua formação originada em uma ponte de gelo que foi recebendo sedimentos das águas do Horcones e do solo ao redor, em um processo biológico e mineral. A ponte é formada por camadas de minerais e algas e tem sua coloração fortemente amarelada pelo óxido de ferro presente no solo local.
No trilho do trem.
Tivemos assim, com a companhia do Milani, dois momentos clássicos de verdadeiros "supertramps": caminhar em um ambiente árido e calorento sobre os trilhos de um trem (embalados mentalmente pela música "Hall of Mirrors" do Kraftwerk, trilha sonora de um comercial da Starsax da década de 80, com cenário semelhante) e encontrar o nosso próprio "magic bus", onde pudemos fazer algumas fotos em uma homenagem a "Alexander Supertramp", cuja história foi contada pelo montanhista John Krakauer no livro "Into the Wild" (que virou filme nas mãos de Sean Penn com trilha sonora de Eddie Vedder do Pearl Jam).
"Magic Bus"
Visitamos ainda o cemitério andino, onde estão fixadas diferentes placas, lápides, crucifixos e outros marcos em lembrança e homenagem aos montanhistas que vieram a falecer nas montanhas, principalmente no Aconcágua. Impossível não se emocionar e refletir sobre o significado das conquistas e derrotas frente aos desafios que buscavam. Entre as homenagens, a do brasileiro Mozart Catão, falecido em 1998 em tentativa de escalada ao pico mais alto das Américas.
Placa em lembrança a Mozart Catão no cemitério andino.
Por fim, antes de nos recolhermos ao hotel para jantar e descansar para o primeiro dia na montanha, ao pararmos em um bar local para nos reidratarmos, encontramos ainda a belga, filha de espanhol, Amalia Martinez, com a qual dividimos eu e a Gi o quarto no hostel em Uspallata. Amalia está há 7 neses na Argentina, aprendendo espanhol e viajando por diferentes regiões. Já tinhamos nos impressionado antes com a alemã Annika, em Córdoba, de apenas 20 anos, viajando sozinha pela América do Sul. Amália acabou de se formar no segundo grau, na bélgica (pronunciado "béuhíca" pela própria), e estava completando 19 anos de idade a meia noite deste mesmo dia. Eu e a Gi chegamos a conclusão que temos que correr muito ainda para recuperar vários anos parados!
Amália, Gisele, Milani e eu.
Mais fotos no Flickr.
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